Ricardo
Teixeira vinha resistindo. Desde a véspera do carnaval, quando a sua renúncia à
residência da CBF começou a ser tratada como questão de tempo, em virtude das
denúncias contundentes de superfaturamento no amistoso Brasil x Portugal, em
Brasília. Ficou. Mas não resistiu por muito tempo. Na semana passada, alegou
problemas de saúde e pediu licença. Ontem, se rendeu de vez. Renunciou ao cargo
no qual esteve por 23 anos. Saiu pela porta dos fundos.
Em
sua carta de renúncia, Teixeira volta a indicar a necessidade de “cuidar da
saúde” como a razão para o seu afastamento definitivo. O teor total do
documento, entretanto, deixa evidente que há muito mais por trás da decisão.
Não só as palavras escolhidas, mas a forma. O ex-presidente preferiu sair em
silêncio, sem aparecer. A carta foi divulgada no site da CBF e foi lida pelo
seu sucessor, José Maria Marín. Mergulhou. Deve viajar para o exterior. Tentar
sair de um foco de acusações que necessitam de explicações. De respostas.No
texto, Teixeira tenta, na verdade, encobrir as acusações com os títulos
conquistados em sua gestão. Em suas sucessivas gestões, na verdade. Quis
construir a imagem de um cristo que carregou uma pesada cruz por 23 anos. Um
salvador que estava sendo crucificado de forma injusta. “Fiz, nestes anos, o
que estava ao meu alcance, sacrificando a saúde, renunciando ao insubstituível
convívio familiar. Fui criticado nas derrotas e subvalorizado nas
vitórias.”Tentou, ainda, transmitir a impressão de que deixa o cargo com a
certeza de dever cumprido. “Nada maculará o que foi construído com sacrifício,
renúncia e dor.” Tentou, ao máximo, mostrar que estava abandonando o seu maior
projeto, o de realizar a Copa do Mundo para o Brasil, por iniciativa própria.
Não por pressão, não para ver se consegue reduzir as cobranças e as críticas.
Em nenhum momento conseguiu. Até porque os gestos falam mais do que as palavras.
Os desafetos ao longo de 23 anos no comando da Confederação Brasileira de
Futebol, Ricardo Texeira teve muitos conflitos com personalidades do esporte e
da política, e com a imprensa. Negociador, o dirigente teve a habilidade de
transformar, muitas vezes, inimigos em aliados. Em determinados momentos, Pelé,
Ronaldo, Alexandre Kalil, Rede Globo, entre outros, demonstraram ser contrários
à administração do cartola, mas bastaram algumas concessões ou acordos para que
a opinião sobre o mandatário se modificasse. No fim das contas, porém, os
desafetos, como a presidente Dilma Rousseff e o deputado federal Romário,
ajudaram na pressão para derrubá-lo.

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